A utilização da Inteligência Artificial (IA) está a assumir um papel cada vez mais relevante no panorama empresarial português, evidenciando uma tendência clara de transformação digital no tecido económico do país. Durante o ano de 2024, mais de 600 mil empresas em Portugal passaram a incorporar esta tecnologia nos seus processos, o que se traduz numa média impressionante de 12 novas adoções por hora, todos os dias do ano. Esta informação tem origem no relatório anual elaborado pela Amazon Web Services (AWS), que analisa detalhadamente a evolução da adoção de IA em território nacional.
O documento destaca o papel central das startups, que têm desempenhado um papel fundamental como dinamizadoras deste crescimento acentuado, assumindo-se como o segmento empresarial mais recetivo e ágil na integração de soluções baseadas em IA. Esta realidade mostra não apenas uma mudança de paradigma tecnológico, mas também uma crescente consciencialização sobre as vantagens competitivas associadas à utilização da inteligência artificial no contexto empresarial contemporâneo.
O papel da Inteligência Artificial na transformação digital em Portugal
Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser uma promessa distante para se tornar uma realidade concreta no dia a dia das empresas em Portugal. Seja através da automatização de processos, da análise preditiva de dados ou do desenvolvimento de novos modelos de negócio, a IA está a ganhar terreno e a contribuir para uma transformação digital profunda e abrangente. No entanto, apesar do crescimento acelerado da adoção tecnológica, subsistem desafios importantes que impedem muitas organizações de atingir todo o seu potencial nesta área.
A Estratégia Digital para 2025 assume-se como um plano estruturante que visa acelerar a transformação digital da economia e da sociedade portuguesa, promovendo a capacitação digital, a inovação tecnológica e o desenvolvimento sustentável.
Adoção em alta e crescimento acelerado
De acordo com o relatório da Amazon Web Services (AWS), no último ano, aproximadamente 96 mil empresas em Portugal começaram a adotar a Inteligência Artificial (IA) pela primeira vez, o que é um indicativo claro de que o país está a acompanhar a tendência global de transformação digital. Para a AWS, este número não representa apenas um ritmo elevado de adoção, mas também um reflexo do grande potencial de crescimento que a implementação de IA ainda pode ter no futuro, à medida que mais empresas exploram as suas capacidades.
Portugal conta com cerca de 1,5 milhões de empresas, o que faz com que, com os 96 mil novos aderentes, aproximadamente 41% do total das empresas nacionais já tenham integrado a IA nos seus processos operacionais. Este valor revela uma evolução positiva e substancial em relação ao ano passado, quando apenas 35% das empresas estavam a utilizar esta tecnologia. A melhoria é expressiva, refletindo a crescente conscientização sobre as vantagens competitivas que a Inteligência Artificial pode oferecer em termos de eficiência, inovação e novos modelos de negócios.
Além disso, o estudo aponta que a taxa de crescimento da adoção de IA está a registar uma aceleração significativa, com um aumento de 17% em relação ao ano anterior. Este dado demonstra uma tendência crescente e uma aceleração no ritmo com que as empresas estão a integrar a tecnologia, o que reforça a ideia de que a IA tem um grande futuro no mercado português e continuará a ser uma força de mudança nas próximas décadas.
Investimento acima da média europeia
Outro dado de grande relevância apresentado no relatório é o significativo aumento de 24% no investimento das empresas portuguesas em Inteligência Artificial (IA) durante o ano de 2024. Este crescimento superior à média europeia, que se encontra nos 22%, demonstra a crescente confiança e a aposta estratégica das empresas nacionais nesta tecnologia. A IA tem vindo a ser vista não só como uma ferramenta inovadora, mas também como um elemento essencial na transformação digital das organizações, proporcionando-lhes a capacidade de otimizar processos e explorar novas oportunidades de negócio. O aumento no investimento sublinha a percepção de que a adoção de IA é fundamental para que as empresas se mantenham competitivas e preparadas para os desafios do mercado global.
As previsões para os próximos anos também são animadoras. Especialistas estimam que, até 2028, a Inteligência Artificial represente cerca de 16% dos orçamentos totais das empresas dedicados às Tecnologias de Informação. Este valor reflecte o papel crescente da IA não só nas operações empresariais diárias, mas também na estratégia a longo prazo das organizações, que começam a entender a sua importância como um dos principais motores de inovação e desenvolvimento tecnológico.
A utilização de IA em Portugal continua a ser valorizada pelas empresas, que reconhecem os benefícios práticos e tangíveis que esta tecnologia proporciona. Entre os principais ganhos identificados, destacam-se o aumento significativo da produtividade, devido à capacidade da IA de automatizar tarefas repetitivas e processos operacionais. Além disso, muitas empresas têm verificado melhorias no seu desempenho financeiro, com um aumento das receitas impulsionado pela eficiência e pela inovação que a tecnologia permite. Estes factores demonstram que a implementação da IA não é apenas uma tendência tecnológica, mas uma estratégia sólida para o crescimento e sustentabilidade das empresas no futuro.
Startups lideram o caminho da transformação
O ecossistema de startups em Portugal tem-se mostrado um dos principais impulsionadores da adoção de Inteligência Artificial (IA), colocando estas empresas na vanguarda da transformação digital. Este grupo tem demonstrado uma grande capacidade para integrar novas tecnologias e explorar soluções inovadoras, tornando-se um exemplo de adaptação rápida e eficaz às novas tendências tecnológicas. As startups têm sido pioneiras na implementação da IA, reconhecendo o seu potencial não só para melhorar os processos internos, mas também para criar novos modelos de negócio e oferecer produtos e serviços com uma maior valia para os consumidores.
Segundo os dados do relatório, 62% das startups portuguesas já integraram a IA nos seus processos operacionais, refletindo o compromisso destas empresas com a inovação e a melhoria contínua. Este elevado número revela uma forte aposta na utilização de soluções tecnológicas avançadas para otimizar a produtividade e a eficiência. Além disso, 35% das startups estão atualmente a desenvolver produtos e serviços com foco nesta tecnologia, procurando tirar partido das suas capacidades para criar novas oportunidades de mercado e oferecer soluções cada vez mais sofisticadas aos seus clientes.
Por outro lado, 55% das startups já incorporaram a IA nas suas estratégias empresariais, o que demonstra que estas empresas estão a olhar para a tecnologia como um elemento fundamental no seu crescimento a longo prazo. A implementação da IA não é vista como uma mera ferramenta operacional, mas como um componente estratégico essencial para a competitividade e inovação das startups. Esta capacidade de antecipar tendências e investir em novas tecnologias coloca as startups portuguesas na linha da frente da transformação digital, distinguindo-as no panorama económico nacional e internacional.
Grandes empresas e PME com abordagem mais cautelosa
Em contraste com o dinamismo observado nas startups, as grandes empresas e as Pequenas e Médias Empresas (PME) em Portugal têm adotado uma postura mais cautelosa e, em muitos casos, hesitante em relação à adoção da Inteligência Artificial (IA). Este comportamento tem resultado numa utilização mais limitada da tecnologia, que fica aquém do seu real potencial e das várias oportunidades que ela oferece para a inovação e o crescimento sustentável das empresas. A resistência ou a lentidão no processo de adaptação a estas novas tecnologias tem-se traduzido numa falta de aproveitamento das capacidades mais avançadas da IA, o que coloca estas empresas em desvantagem face às mais ágeis e inovadoras startups.
O relatório sublinha que muitas dessas grandes empresas e PME se limitam a explorar apenas as funcionalidades mais simples e imediatas da IA, como a automação de tarefas repetitivas e a melhoria da eficiência operacional. Embora estas aplicações básicas tragam benefícios tangíveis, como a redução de custos e a optimização de processos, as organizações não têm avançado para o uso de soluções mais complexas e inovadoras que poderiam melhorar significativamente outros aspectos dos seus negócios, como a personalização de produtos e serviços, a análise preditiva ou a criação de novos modelos de negócio. Este enfoque restrito impede estas empresas de colherem os frutos do potencial transformador da IA, deixando-as vulneráveis a uma maior competitividade de empresas mais dispostas a investir em soluções mais avançadas. A falta de uma abordagem estratégica e integradora pode comprometer a sua capacidade de adaptação à rápida evolução do mercado tecnológico e à crescente digitalização dos negócios.
Contributo económico da IA baseada na cloud
Um estudo recente realizado pelo Telecoms Advisory Service, sob encomenda da Amazon Web Services (AWS), revelou que a Inteligência Artificial (IA) baseada na cloud contribuiu com mais de 647 milhões de dólares para o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal em 2023. Este dado reflete não só o impacto económico imediato da implementação da IA no país, mas também o potencial significativo que a tecnologia tem para impulsionar o crescimento económico em diversas áreas. A utilização da IA em plataformas de cloud tem mostrado ser um motor essencial para a transformação digital das empresas portuguesas, contribuindo de forma direta e substancial para a produtividade e inovação no setor empresarial.
A mesma pesquisa estima que, no futuro, a cloud, como um todo, terá um impacto ainda maior no crescimento económico a nível europeu. A previsão é que, até 2030, a cloud contribua com cerca de 2,6 biliões de dólares ao PIB da Europa. Deste montante, estima-se que a componente da IA, quando integrada nas infraestruturas de cloud, poderá representar uma parcela significativa, estimada em 434 mil milhões de dólares. Estes números indicam claramente o papel crescente da IA baseada na cloud, não só como um impulsionador do desenvolvimento económico, mas também como um elemento chave na modernização e digitalização das economias europeias. A aposta estratégica na IA é vista como uma oportunidade de consolidar o futuro competitivo da região, à medida que as empresas continuam a integrar estas tecnologias para melhorar os seus processos e criar novas soluções no mercado.
Barreiras à adoção ainda persistem
Apesar da evolução positiva da adoção da Inteligência Artificial (IA) em Portugal, a Amazon Web Services (AWS) identifica vários obstáculos que ainda estão a impedir uma implementação mais alargada da tecnologia em diversas empresas. Esses desafios continuam a ser uma barreira significativa para que a IA se espalhe de forma mais abrangente e se torne uma ferramenta estratégica em todos os setores económicos. Um dos principais obstáculos mencionados pela AWS é a escassez de competências digitais no país. A falta de profissionais qualificados, com o conhecimento necessário para implementar, gerir e tirar o máximo partido da IA, limita a capacidade das empresas em tirar proveito total da tecnologia. Este défice de habilidades tem sido uma preocupação crescente, especialmente porque as empresas precisam de uma força de trabalho capaz de lidar com as complexidades associadas à utilização da IA.
Outro fator que tem contribuído para a resistência à adoção da IA é a perceção dos elevados custos iniciais envolvidos na implementação da tecnologia. Muitas empresas, especialmente as de menor dimensão, veem a adoção da IA como um investimento significativo, o que leva a uma hesitação em avançar com a sua integração. A falta de compreensão dos benefícios a longo prazo e o receio de custos elevados associados à implementação de soluções de IA acabam por gerar uma certa relutância em explorar o seu potencial.
Adicionalmente, a incerteza regulatória também se apresenta como um desafio relevante. A ausência de uma regulamentação clara e estruturada no que diz respeito ao uso da IA pode gerar receios nas empresas, que se sentem inseguras quanto às implicações legais e à forma como as normas e regras podem evoluir no futuro. Esta incerteza pode, assim, retardar a adoção mais generalizada da tecnologia, à medida que as organizações aguardam por uma maior clareza sobre os requisitos legais e éticos.
Segundo a AWS, esses fatores combinados funcionam como um verdadeiro travão à transformação digital e à inovação em Portugal, impedindo o país de aproveitar todo o seu potencial de crescimento impulsionado pela IA. Superar essas barreiras será fundamental para que as empresas portuguesas possam realmente colher os benefícios da inteligência artificial e posicionar-se de forma competitiva no cenário global.
Estratégia Digital 2025 pode ser o catalisador
A Amazon Web Services (AWS) considera que Portugal possui todas as condições necessárias para se tornar uma referência internacional no campo da Inteligência Artificial (IA), dado o seu potencial de desenvolvimento e a capacidade das empresas e instituições portuguesas em integrar novas tecnologias. Para alcançar este objetivo, a AWS vê a Estratégia Digital para 2025, lançada pelo Governo, como um instrumento fundamental para desbloquear o potencial do país na área da IA. A estratégia propõe um conjunto de ações e iniciativas que visam acelerar o desenvolvimento tecnológico e a implementação de soluções digitais em várias vertentes da sociedade e da economia.
O plano da Estratégia Digital para 2025 está estruturado em três eixos principais que se interligam e se complementam, visando uma transformação profunda em várias áreas da economia e da administração pública. O primeiro eixo foca no reforço do apoio às startups, com uma ênfase particular nas que operam no campo da IA. O objetivo é proporcionar às novas empresas os recursos necessários para a inovação e crescimento, estimulando a criação de soluções tecnológicas avançadas que possam impulsionar a transformação digital a nível nacional e internacional.
O segundo eixo concentra-se na aceleração da transformação digital em todos os setores da sociedade, tanto no setor público quanto no privado.
A ideia é integrar a IA de forma transversal, tornando-a uma ferramenta essencial na modernização e otimização de processos em todas as áreas, desde os serviços públicos até as indústrias privadas. Este esforço visa criar um ambiente favorável à inovação, onde a adoção de tecnologias digitais seja não só uma opção, mas uma prioridade estratégica para o desenvolvimento do país.
Por fim, o terceiro eixo da Estratégia Digital para 2025 foca-se na expansão do apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME) e grandes empresas, com o objetivo de as ajudar a integrar a IA de maneira estratégica e sustentável. As empresas de maior porte, muitas das quais ainda hesitam em adotar a IA de forma mais ampla, receberão suporte para explorar todo o potencial dessa tecnologia, não apenas para melhorar a sua eficiência, mas também para inovar e criar novos modelos de negócio.
Com uma abordagem coordenada e investimentos contínuos nestes três eixos, Portugal tem a oportunidade de se posicionar como líder europeu na adoção e desenvolvimento da Inteligência Artificial. A implementação bem-sucedida desta estratégia permitirá ao país não só fortalecer a sua economia digital, mas também impulsionar a sua competitividade no cenário global, tornando-se um exemplo de inovação e transformação digital em toda a Europa.