Eletricidade renovável: o caminho para a transição energética em Portugal
A tendência positiva verificada desde o início de 2024 tem reforçado esta perspetiva otimista. Os dados disponíveis até ao momento evidenciam uma melhoria substancial no desempenho do sistema elétrico nacional no que respeita à incorporação de energias renováveis. Em particular, a produção de eletricidade a partir de fontes limpas, como a hídrica e a eólica, tem registado níveis muito expressivos, contribuindo de forma decisiva para a consolidação deste avanço.
A energia hídrica, beneficiando das condições climatéricas favoráveis, e a energia eólica, apoiada por uma capacidade instalada cada vez mais robusta, têm sido os principais pilares deste crescimento. Estas duas fontes renováveis têm vindo a afirmar-se como elementos estruturais da matriz energética portuguesa, assegurando não só uma redução significativa das emissões de gases com efeito de estufa, como também uma menor dependência de recursos externos.
A ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, confirmou esta evolução ao comentar os resultados mais recentes. À margem da II Conferência de Energia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sublinhou a forte possibilidade de o país atingir a meta de 80% já em 2025, o que demonstra a solidez das medidas em curso e a continuidade dos esforços no sentido de alcançar uma economia mais verde e sustentável.
Produção renovável atinge novo máximo histórico
Durante o ano de 2024, a produção de eletricidade proveniente de fontes renováveis atingiu uma expressão sem precedentes em Portugal, assegurando 71% do total da eletricidade consumida no território nacional. Este valor representa um marco significativo na história do setor energético do país, refletindo os resultados de anos de investimento e planeamento estratégico no domínio das energias limpas. A análise pormenorizada dos dados disponíveis revela que a energia hídrica foi a principal responsável por este desempenho, contribuindo com 28% do consumo total. Logo de seguida surge a energia eólica, com um peso de 27%, consolidando a sua posição como uma das fontes mais relevantes da matriz elétrica nacional.
A produção solar fotovoltaica registou uma presença assinalável, representando 10% da eletricidade consumida, enquanto a biomassa teve uma contribuição de 6%, reafirmando a importância das soluções energéticas de base florestal e orgânica no contexto da diversificação energética. Esta composição demonstra não só um aumento na capacidade instalada destas tecnologias, mas também um equilíbrio cada vez maior entre diferentes fontes de produção renovável, capazes de atuar de forma complementar ao longo do ano, face às variações sazonais e meteorológicas.
A consolidação desta tendência tem permitido reduzir gradualmente a dependência energética de combustíveis fósseis, promovendo uma maior autonomia do sistema elétrico nacional. Simultaneamente, contribui para uma redução significativa das emissões associadas à produção de eletricidade, reforçando o compromisso de Portugal com os objetivos ambientais definidos a nível europeu e internacional. Este progresso é igualmente revelador da resiliência crescente da infraestrutura energética nacional, mais preparada para responder a desafios futuros relacionados com a segurança do abastecimento e a mitigação das alterações climáticas.
Fontes fósseis com peso residual e aumento das importações
A produção de eletricidade recorrendo a fontes não renováveis, com destaque para o gás natural, apresentou um contributo bastante limitado no panorama energético português em 2024, representando unicamente 10% do total da eletricidade consumida ao longo do ano. Este dado confirma a tendência sustentada de declínio da utilização de combustíveis fósseis no setor elétrico, refletindo os esforços desenvolvidos ao longo da última década para promover uma transição energética baseada em fontes mais limpas e sustentáveis.
Apesar da forte aposta nas renováveis e dos resultados muito positivos já alcançados, a produção nacional não foi suficiente para cobrir integralmente a procura interna, obrigando o país a recorrer ao mercado externo para colmatar o défice. As importações de eletricidade totalizaram 10,5 terawatts-hora (TWh), um volume sem precedentes que estabelece um novo máximo histórico neste domínio. Este dado evidencia que, embora o país tenha avançado significativamente no reforço da sua capacidade instalada de geração limpa, ainda subsistem limitações estruturais que condicionam a autonomia plena do sistema elétrico, particularmente em contextos de maior exigência ou menor disponibilidade interna, como em períodos de seca prolongada ou variações imprevistas da produção eólica.
Esta realidade sublinha a importância de continuar a investir de forma consistente no aumento da robustez da produção nacional, nomeadamente através da diversificação tecnológica, do reforço da interligação entre regiões e da promoção de soluções de armazenamento de energia. Só assim será possível garantir a segurança do abastecimento e responder com maior eficácia às flutuações naturais associadas à produção renovável, consolidando um sistema elétrico verdadeiramente resiliente e alinhado com os compromissos de descarbonização.
Conclusão
Portugal encontra-se num momento determinante do seu percurso energético, demonstrando uma capacidade notável para acelerar a transição para fontes renováveis. A antecipação da meta dos 80% de eletricidade renovável já em 2025 evidencia não só o sucesso das políticas públicas e do investimento realizado, mas também a maturidade crescente do setor. No entanto, os desafios estruturais permanecem visíveis, nomeadamente no que respeita à necessidade de reforçar a autonomia do sistema e garantir a segurança do abastecimento em cenários adversos.
A consolidação desta trajetória exigirá um compromisso contínuo com a inovação, o planeamento estratégico e a diversificação tecnológica. A aposta em soluções de armazenamento, na gestão inteligente da rede e no reforço das interligações será determinante para garantir um sistema elétrico mais resiliente, eficiente e preparado para os desafios futuros. O caminho está traçado e os resultados mostram que Portugal está, de facto, a seguir na direção certa.