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A orientação protecionista da política comercial dos Estados Unidos, a par do aumento significativo das despesas destinadas ao setor da defesa, surgem como fatores adicionais de preocupação no que respeita à estabilidade financeira à escala global. Estes elementos são agora destacados no relatório de estabilidade financeira relativo ao ano de 2025, recentemente publicado pelo Banco de Portugal (BdP), que sublinha a forma como estas dinâmicas intensificam um contexto já marcado por diversos desafios.

O documento integra estas novas ameaças num quadro mais alargado de riscos previamente identificados, nomeadamente a persistente volatilidade dos mercados financeiros internacionais e as crescentes tensões geopolíticas, que continuam a afetar a confiança dos agentes económicos e a fluidez das cadeias de valor globais.

Nova ameaça à estabilidade financeira

De acordo com o documento publicado pelo regulador nacional, a orientação económica mais agressiva por parte da administração norte-americana representa um risco adicional face ao contexto já desafiante do ano anterior. A política comercial protecionista dos EUA é, assim, identificada como mais uma fonte de perturbação para a estabilidade dos mercados financeiros internacionais.

Além disso, o Banco de Portugal aponta o aumento das despesas em defesa, também por parte dos EUA, como um fator de pressão sobre os equilíbrios orçamentais, quer a nível global, quer com implicações indiretas para a economia nacional.

Impactos potenciais na economia portuguesa

A autoridade monetária sublinha que, se estes riscos se vierem a concretizar, os efeitos sobre a confiança dos agentes económicos e sobre o funcionamento das cadeias de abastecimento serão significativos. Esta instabilidade poderá penalizar a actividade económica em Portugal e gerar pressões inflacionistas adicionais.

Com o rácio da dívida pública a manter uma trajetória descendente, mas ainda em níveis elevados, o Banco de Portugal alerta para a possibilidade de inversão desta tendência. O surgimento de novos riscos poderá interromper a redução do endividamento e originar um aumento dos prémios de risco exigidos pelos investidores para deter dívida soberana portuguesa.

Expectativas cautelosas, apesar do contexto

No decurso da apresentação do relatório de estabilidade financeira, a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, salientou que os cenários apresentados representam hipóteses que poderão vir a concretizar-se, mas que não são certezas definitivas. Reforçou, contudo, a importância de manter uma vigilância rigorosa face ao potencial impacto que estes riscos poderão ter na economia, tanto a nível nacional como global. Esta postura preventiva visa assegurar que se possam tomar medidas adequadas e atempadas, caso estas situações adversas se manifestem.

Em paralelo com este enquadramento marcado por um grau elevado de incerteza, a autoridade monetária mantém uma perspetiva moderadamente otimista relativamente à evolução económica para 2025. Segundo as projeções do Banco de Portugal, espera-se que a inflação continue a seguir uma trajetória descendente, aproximando-se progressivamente da meta definida de 2%. Quanto ao mercado de trabalho, prevê-se que a taxa de emprego estabilize ao longo do ano, refletindo uma situação relativamente estável, apesar dos desafios e riscos identificados no atual contexto económico.

Empresas revelam maior resiliência

No que concerne ao tecido empresarial português, o Banco de Portugal destaca uma notável melhoria na capacidade de resistência das empresas nacionais perante possíveis choques económicos e financeiros. Esta maior resiliência fica demonstrada pela diminuição significativa do número de insolvências registadas ao longo de 2024, bem como pela estabilidade da qualidade do crédito concedido, que se manteve em níveis considerados sólidos e equilibrados. Estes indicadores refletem uma adaptação positiva das empresas ao atual contexto económico, sugerindo uma maior capacidade para suportar eventuais adversidades.

Contudo, Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal, salientou que as empresas terão de se preparar para operar num ambiente marcado por taxas de juro mais elevadas do que as inicialmente previstas. Esta realidade cria um cenário mais exigente, no qual os avanços obtidos no controlo da inflação e na recuperação do crescimento económico enfrentam desafios significativos, colocando pressão sobre os recursos financeiros e estratégias das empresas.

Reconhecendo este novo contexto, o Banco de Portugal admite que poderá ser necessário proceder a ajustamentos nas políticas de gestão dentro das organizações, especialmente naquelas que se encontram mais expostas às condições do mercado internacional. Isto é particularmente relevante para os setores cuja atividade está fortemente dependente das exportações, onde as alterações nos fluxos comerciais e nas condições económicas globais exigem uma maior flexibilidade e adaptação estratégica para assegurar a sustentabilidade e competitividade das empresas portuguesas.

Situação das famílias e possíveis riscos

No que diz respeito à situação financeira dos agregados familiares, o Banco de Portugal apresenta, no início de 2025, uma perspetiva globalmente favorável. Esta avaliação baseia-se em dois indicadores essenciais: a diminuição do rácio de endividamento das famílias e o crescimento da taxa de poupança, sinais de uma maior solidez financeira no seio dos lares portugueses.

No entanto, a autoridade monetária alerta que este panorama positivo poderá ser comprometido caso se venham a concretizar os riscos anteriormente identificados no relatório. A materialização dessas ameaças, nomeadamente de origem geopolítica, comercial ou orçamental, poderá traduzir-se num aumento do desemprego, colocando em causa a estabilidade dos rendimentos familiares. Tal cenário teria como consequência direta uma diminuição da capacidade das famílias para honrar os seus compromissos financeiros, designadamente no que se refere ao pagamento de dívidas e encargos mensais, fragilizando assim o equilíbrio económico do setor doméstico.

Um cofrinho rosa quebrado repousa sobre gráficos financeiros, ao lado de moedas empilhadas e uma calculadora azul. Uma seta vermelha em zigue-zague apontando para baixo destaca o impacto da perda da estabilidade financeira ou do declínio econômico. - Efacont

Conclusão

Em suma, o relatório do Banco de Portugal para 2025 evidencia que, apesar dos sinais positivos em alguns domínios, como a maior resiliência empresarial e a melhoria da situação financeira das famílias, a estabilidade financeira global e nacional enfrenta desafios significativos. A conjugação de políticas comerciais protecionistas, o aumento das despesas em defesa e a persistência de tensões geopolíticas cria um ambiente económico marcado por incertezas e riscos que podem afetar a confiança dos agentes económicos e o funcionamento das cadeias de abastecimento. Assim, torna-se fundamental que as autoridades, empresas e famílias mantenham uma postura vigilante e adotem estratégias de adaptação para preservar a estabilidade financeira e assegurar um crescimento económico sustentável no médio prazo.